domingo, 18 de setembro de 2016

ESLIPA. Onde a mímica encontra o palhaço!

Desde minhas primeiras aulas, como professor de mímica para palhaços, na ESLIPA, algo me chamou a atenção. Sua metodologia. Com uma pedagogia libertária, fundada no conhecimento dos mestres palhaços, a ESLIPA flerta com o conhecimento em diversas nuances. De um lado, valoriza o conteúdo teórico e a percepção histórica do fazer "palhascesco", dentro de um universo onde o aprendizado é oferecido, juntamente com o conhecimento, por outro lado, uma escola focada no empirismo, onde o aperfeiçoamento da técnica, perpassa pelo contato permanente com o eu palhaço através da reflexão e prática desta arte.

Uma bela turma em 2012. Quatro anos depois, a ESLIPA segue crescendo
e proporcionando o que há de melhor, num aprendizado para palhaços.
Em 2012, circulando pelos espaços culturais do Rio de Janeiro, a ESLIPA ainda flutuava aqui e ali para realizar suas aulas. Lembro que fui dar aula na lona Crescer e Viver, e lá, reencontrei meu amigo, Vinícius Daumas. Também tive a oportunidade de encontrar a pesquisadora Alice Viveiros de Castro. Um manancial de conhecimento e generosidade, tendo como foco principal, os alunos. Gente focada e que hoje faz bonito no mundo da arte, Patrícia Ubeda, Lili Castro, Dio Jaime Vianna e tantos outros que potencializaram sua relação com a arte da palhaçaria.
A ESLIPA é uma escola com modelo e pedagogia, únicos, longe de formalismos e caretices, a escola vai direto ao ponto, leva o profissional que trabalha no ofício, aqueles, obviamente, que percorrem uma filosofia na vida artística de seu criar cotidiano, assim, o contato com profissionais como Pepe Nuñez, Biribinha e Lili, entre outros, transforma uma linguagem que transgride as formas tradicionais para respeitar a tradição, um paradoxo, típico do mundo contemporâneo, não se pode falar em palhaçaria se conhecer os verdadeiros palhaços.
Em 2015 e 2016, a Tive a honra de voltar a dar aula na ESLIPA a convite do meu mestre e guru Richard Riguetti, encontrei um ambiente velho e novo. Velho porque a valorização à tradição, não ser perdeu, o que dá à ESLIPA um vigor único; novo porque tudo está nascendo e renascendo ali. Desde o figurinista e o estudo de ambientação para uma reprise, até a reflexão e abordagem sociológica, importante, para se discutir, acima de tudo, a ética por trás da vida de um artista que vai devotar seu destino aos picadeiros.

Estudar mímica com palhaços e cima de um picadeiro, é um sonho vivido.
Aula em 2016, na Escola Nacional de Circo, para alunos da ESLIPA.
Em 2016, participei de uma roda, das mais bonitas, foram dois dias de aula e um mergulho na essência e na criação, mas, o mais bonito foi ver nascer e se resolver, um conflito dentro da escola, uma discussão profunda sobre relacionamento humano, um debate e uma mediação que levou todos os alunos a emitirem seus pensares sobre ética e visão de mundo. No final, um abraço coletivo, muitos abraços e muitos reencontros de emoções, em seguida, uma aula de mímica para palhaços.
Desde que comecei a fazer mímica, em 1989, fui tocado pela energia do meu mestre Everton Ferre, tenho sido fiel à sua visão de ética e procurado fazer da pantomima, não apenas um ganha pão, mas uma forma de ver e perceber o mundo, através das oportunidades que recebo, vivo e vejo na rotina constante do meu fazer diário. Não é fácil ser mímico, nada é fácil. Lidar com a invisibilidade é bem mais complicado do que enfrentar o silêncio, já que este, para nós, os mímicos, é uma forma de eloquência também. Levar para uma sociedade um olhar e tirar dela outros olhares para vida, este tem sido o grande desafio e é por isso que eu simplesmente gosto de estar entre os jovens e a equipe da ESLIPA, uma escola do coração.

Jiddu Saldanha - Mímico e Blogueiro

sábado, 17 de setembro de 2016

Domingos Montagner - Uma Salva de Risos para o Grande Palhaço!

Em alguns anos, a crônica artística brasileira vai lembrar de Domingos Montagner como um grande palhaço, um artista circense, um poeta do lúdico. Antes de seu sucesso na TV, Rodrigo em sua Cia. Lamínima, fizera grande sucesso com o espetáculo "A Noite dos Palhaços Mudos", dirigido por Álvaro Assad. Tempos depois, a mesma história, escrita pela cartunista Laertes, virou filme dirigido por Juliano de Lucca. Uma história que encantou o público brasileiro, tendo viajado e ganhado grandes prêmios pelo Brasil a fora.




Vivendo momentos e navegando nessa nave mãe chamada terra, todos de algum modo, caminham em direção à morte. Morrer é um sentido que talvez explique, de fato, a vida. A razão de nosso existir mais pleno, a forma como pulsamos para a vida e a maneira como caminhamos, em direção a nossos objetivos, nossos delírios, nossos sonhos.
O mundo de um verdadeiro palhaço, com desfecho trágico, pode ser uma metáfora de nossa dor, de nossa existência, de nosso caminhar e respirar cotidiano. Domingos, de alguma forma, deixa sua marca para sempre, aderente em cada coração que teve a honra e o prazer de contemplar sua vida artística e suas criações poéticas.
Embora não tenha acompanhando sua vida artística na TV, lembro-me apenas de tê-lo visto, nos anos 90, peregrinando pelos teatros e eventos artísticos em algum lugar do Brasil. São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, talvez. O fato é que a gente reconhece um colega de profissão mesmo não sendo amigo no sentido mais presencial. Saber-se portador de sonhos que se aproximaram e que de alguma forma se uniram, é a razão maior desta pequena homenagem da Cidade de Palhaços a este grande artista.
Sendo assim, só me resta saudar este grande artista com a frase preferida de um outro palhaço incrível, o "Café Pequeno", de Richard Riguetti: Para Domingos Montagner peço a todos, UMA SALVA DE RISOS...

Um filme de Juliano Luccas, veja o Trailler de
"A NOITE DOS PALHAÇOS MUDOS"


Jiddu Saldanha - Blogueiro