quinta-feira, 23 de junho de 2016

Todo palhaço tem a mala que merece!

Um dos mais importantes acessórios de um palhaço, a "Mala do Palhaço", mais do que depositário de objetos preciosos para a construção da cena, é um símbolo da transitoriedade deste artista por diversos rincões. A mala traz sempre uma lembrança, um objeto e a possibilidade de novos encontros.

A Mala da Fama, que pertenceu ao 
palhaço PRESEPINO, hoje em dia e
mais famosa do que seu dono.
Quer conhecer um palhaço de verdade, repare a mala que ele carrega. A do palhaço Rufino, por exemplo, parece caber uma pessoa dentro. Tem cores primárias e comunica diretamente e de forma simples, a possibilidade que este objeto gigantesco, traz como construção e aquecimento de uma boa cena de palhaçaria. Pelas praças de Cabo Frio, este palhaço tem sido a grande alegria da cidade, não só pela constância e qualidade de seu trabalho, mas também, pela capacidade de transformar seu objeto de cena em, praticamente um cenário que pode dar dinâmica ao contexto da cena. De dentro da Mala do Palhaço Rufino, sai um mundo, desde seus objetos cênicos como acessórios que são distribuídos pela extensão do espaço cênico escolhido por ele e sua eterna companheira, a palhaça Coizinha. A Mala do Genial palhaço Slava Polunin, é ainda maior, podendo gerar possibilidades cenográficas e criar contextos artísticos inimagináveis pelo público. O mais incrível é ver a forma habilidosa como este genial artista, manuseia com total desenvoltura a imensa quantidade de objetos que sua mala carrega. 

Um objeto simples, com cores primárias e o seu famoso bordão "Nhém", a mala do Palhaço Rufino, é um objeto que que tem
diversas funções em cena, além de trazer, praticamente, seu espetáculo do lado de dentro. 


Dio Jaime Vianna, quando deu sua generosa oficina ao TCC - Teatro Cabofriense de Comédia, sobre noções gerais da arte da palhaçaria, foi gentil e abriu a mala do seu palhaço, o Tatuí, simplesmente incrível, Dio, chegou a dizer que tem coisas que ele compra e coloca na mala mas não sabe quando e nem como vai usar. Isso remete, principalmente, à atitude de manter sempre uma mala de possibilidades para dialogar, na cena, com o público, através de um improviso até mesmo a descoberta de uma nova cena de palhaçaria, que pode surgir a partir de uma simples e direta relação com a criatividade e pesquisa, feita ali, logo em frente ao público. Foi num momento desses que, conversando com a palhaça Coiszinha e o Palhaço Rufino, ouvi da própria voz e bom som: "Nem tudo o que tem na mala do palhaço pode ser mostrado". O palhaço carrega segredos dentro de sua mala.
Lili Castro e a coleção de malas da palhaça Dona Marlene, a
maior delas, roubada, infelizmente...
Na virada para o ano 2000, a mala do meu palhaço, Prezepino, ganhou um presente, tornou-se mais popular que o dono, uma simples brincadeira feita com o ator Mario Tourinho, sobrinho de Oscarito, ambos já falecidos; começou a correr de mão em mão pelo Brasil a fora, tornando-se bem mais famosa do que o próprio Prezepino. A brincadeira foi tão boa, que, 16 anos depois e com mais de quinhentas mil pessoas fotografadas, a Mala da Fama, como ficou conhecidas, hoje tem até réplica, mas está guardada como uma relíquia. Sua utilidade, antes, era apenas para carregar o nariz e o pandeiro do Prezepino, hoje, é um ojbeto decorativo que já participou até mesmo de salões de exposição e percorreu a mão de modelos, artistas e profissionais de todas as categorias, pelo mundo showbiz brasileiro. Prezepino, depois de um longo e tenebroso inverno, retomou sua vida artística ao lado de uma nova geração de artistas Cabofrienses e agora, está decidindo qual mala irá usar, de fato.
A arte da palhaçaria é rica em possibilidades, disso todos sabemos, e o repertório de um palhaço passa, também, por objetos que ele carrega, quer seja como adereços de cena, para construir suas gags ou, ainda, e, principalmente, pela mala que ele se permite carregar, é aí que reside boa parte de sua conexão criativa com a platéia e o mundo de sua arte, e si.

Sobre malas roubadas.

Dona Marlene, a palhaça divertidíssima, criação da artista
Lili Castro. Vão se as malas mas ficam os sonhos!
Quase todos os palhaços que conheço, tem uma história com "malas roubadas", isso mesmo, não é fácil você investir e depositar toda sua alegria, amor e criatividade num objeto tão significativo e depois se dar conta de seu desaparecimento. Quando procurava a foto da mala da palhaça "Dona Marlene", criação da querida Lili Castro, ela comentou comigo o sumiço de sua mala maior, que compõe a coleção de sua personagem. Isso me fez lembrar o desaparecimento, também, de uma de minhas malas que, na época, eu chamava de "Mala do Sonho"! Foi com essa mala que fiz a primeira apresentação, ainda no ano 2000, do primeiro "Simpósio Internacional de Contadores de Histórias", na biblioteca estadual do Rio de Janeiro. Dois anos depois, esqueci a mesma mala dentro de um táxi e o taxista conseguiu fazer contato comigo e devolver-me. Já, na segunda vez, em 2003, não tive a mesma sorte. Eu e minha esposa, saímos quase fugidos de dentro de um táxi, cujo profissional neurótico começou a falar de extermínio de crianças, ficamos em pânicos e saltamos do carro "quase em movimento", o tal taxista levou nosso bom humor, e a mala cheia de objetos e figurinos do meu palhaço, "Prezepino", que até hoje, briga comigo... triste fim de um objeto de sonhos!


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