sexta-feira, 4 de março de 2016

O Palhaço e a Moda!

Um palhaço nunca será igual ao outro, impossível. No entanto, aqueles que fazem muito sucesso podem gerar imitadores!


BIP - Marcel Marceau e CARLITOS - Charles Chaplin, estão entre os
estilos de figurinos mais imitados, por fãs do mundo todo.
Numa visão geral a moda palhascesca não tem muita lógica, porém, ela coloca um pouco da visão, não só de ridículo, mas estética e a percepção artística do próprio criador, diante da criatura. Talvez, por isso mesmo, nenhuma forma artística exibe tanta originalidade e diversidade ao mesmo tempo. O ideal de moda do palhaço, nunca será atingido pela sociedade de consumo, porque este olhar específico vem da alma de cada artista e sua ligação com o mundo. Quando você acha que viu de um tudo, começa a descobrir que vem muito mais por aí.
Um palhaço nunca será igual ao outro, impossível. No entanto, aqueles que fazem muito sucesso podem gerar imitadores, mas isso é muito raro, talvez os únicos palhaços que conseguiram gerar imitadores, de fato, foram: Marcel Marceau e Charles Chaplin. Em ambos os casos, a roupa, apesar de ter detalhes bem focados na arte do palhaço, também
Naan e Koy: Personagens do  IMAGINÁRIO, de Cabo Frio,
chapéus trabalhados na forma, e a tropicalização
de contrastes de cores. Foto: Thiago Andrade
fizeram, de alguma forma um link mais direto com a forma natural de se vestir, buscado um contraste de cores mais simples e cortes mais clássicos, tornando-os universais e fáceis de imitar.
Marceu Marceau e seu personagem Bip, cuja indumentária de corte simples e com detalhes bem específicos e cores sóbrias, fez nascer um fascínio mundial pelo mesmo corte de roupa, fazendo com que, uma boa parte dos mímicos buscassem inspiração em sua forma de vestir a personagem que imortalizou a pantomima, como forma definitiva de arte independente da dança e do teatro. Já, Charles Chaplin criou seu personagem Carlitos, redesenhando a própria forma de vestir, em sua época, porém, com detalhes exagerados como, por exemplo, a forma alongada do sapato com bico ligeiramente levantado e aparência gasta e acessórios como a Bengala, por exemplo, bem comum em sua época. A sua, porém, tinha detalhes que destoavam de um conjunto mais usual, tornando-se, claramente, um objeto de releitura de seu próprio contexto.
Em Cabo Frio, dois detalhes chamam a atenção na moda artística local, a forma simples do grupo "Imaginário", que tem uma leve inspiração nos cortes clássicos da era Bip e Carlitos, porém, com camadas de corte tropical, tanto na maquiagem, como nas cores da roupa em si. A pesquisa do grupo Imaginário como forma de vestir personagens fixos em situações diferentes, propõe uma possível construção estético-visual que, com o tempo, poderá ser fruída dentro de um conjunto, onde, certamente, novos adereços e possibilidades irão
Hermetinha, personagem criada por Kéren-Hapuk, a forma do cabelo
e o colar com 4 argolas, dão um ligeiro contraste com a roupa de corte
clássico. Foto: Manuela Paiva Ellon
surgir. Como visão artística e poética, o grupo imaginário parece mergulhar numa essência que, certamente, está contribuindo para a "moda palhascesca contemporânea".
Outro tipo de roupa interessante é a da palhaça Hermetinha, de Kéren-Hapuk, que, certamente, não só reflete a visão estética de sua criadora, mas que resultou numa feliz descoberta onde, o desenho da roupa, o contraste simples das cores e a forma como ela posiciona o cabelo, acaba dando uma visão completa de uma imagem melancólica e fluida com um resultado interessante. O detalhe do colar, feito por 4 anéis vermelhos pendurados por uma fita de náilon, contribui para uma harmonização entre os cortes secos e clássicos da roupa para uma harmonia que faz o público se prender a detalhes e ao mesmo tempo fluir na forma simples e musical da personagem.
Enfim, não existe uma "moda específica" para a palhaçaria, no entanto, algumas atitudes estéticas segue um padrão, como, por exemplo, enfeitar a personagem com detalhes e adereços que diga respeito à visão de mundo do próprio criador da personagem em si. Estabelecer uma relação emocional e, muitas vezes, familiar, com algum detalhe que remeta à família do próprio artista em questão e/ou, até mesmo, aos seus ídolos e ícones, que ditam o conceito de sua própria vida. Os palhaços, na sua maioria, criam suas roupas num primeiro momento, mas seguem reinventando-a, até o momento em que descobrem o seu ponto definitivo.


(Jiddu Saldanha - Mímico, palhaço e professor de teatro).

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